3º dia - 28/12/2017 - Um furo, dois furos, três furos, quatro furos, cinco furos

Buenas, pessoal!
Pois é, o título diz bem como foi o meu dia hoje, nessa percorrida a Ushuaia em cima de uma bicicleta...
Saí às 07h do Hotel Molon, a 10 km de Camaquã, e logo depois cheguei no trevo de acesso dessa cidade. Parada tradicional para o registro fotográfico.


Tempo firme, pouco vento, o dia prometia ser bom, e minha expectativa de chegar hoje em Pelotas, ou ao menos o mais próximo dela, pareceu ser bem razoável.
Minha esperança, contudo, foi para o espaço logo depois. Mal tinha pedalado 20 km, senti a dançadinha tradicional da bagagem. Câmara furada. Nem me abalei: achei uma porteira aberta, entrei na fazenda e procurei uma boa sombra para fazer o conserto. Desafixei os espelhos e o ciclocomputador e tombei a bicicleta. Quando, contudo, tirei a câmara que substituiria a furada, verifiquei que o ventil era fino, de inox, ou seja, a câmara que estou carregando não poderia ser enchida pela minha bomba. Bocabertice minha, que deveria ter conferido quando a comprei. Lógico que o conserto demorou bem mais tempo - remendar a câmara exige conhecimento e paciência. Logo vi o que provocou o furo: os caminhões perdem recapagens dos pneus, e a malha de arame que integra a estrutura se esfarela, deixando no acostamento incontáveis pedaços de arame, pontudos como agulhas. Passando por cima com uma bike carregada como a minha, é como se o pneu fosse flechado pelo arame.
Uma hora depois retornei à estrada.
Alguns quilômetros antes da cidade de Cristal, fui brindado com um achado: uma represa, imensa, sem cerca, na beira da estrada. Ah, me fui à água! A bicicleta ficou estacionada no acostamento. Que banho!


Faltando 4 km para chegar em Cristal, outra vez a bicicleta se contorceu... ai, ai, ai... pneu traseiro furado de novo. Virei a roda a já localizei outro arame preso. Como o pneu estava murchando devagarzinho, desci da bicicleta e caminhei 45 minutos até encontrar um borracheiro, que fez o conserto. 
Almocei num restaurante próximo, descansei um pouco, escapando do olho do sol, e às 15h voltei à estrada.
Em Cristal, há uma ponte de 700 metros de extensão, que passa por cima do Rio Camaquã. Entrei na ponte à toda, embalado por uma descida que a antecede, mas a bicicleta foi perdendo velocidade, eu fazendo uma força danada para tracioná-la, um caminhão teve que reduzir, ficou andando atrás de mim a 15 km/h, outros carros e caminhões foram reduzindo também, logo eu tinha uma escolta me esperando sair da ponte. 
Aí, o que aconteceu? A bicicleta se requebrou pela terceira vez! Só que a câmara esvaziou num já! e tive que sair da frente para não ser atropelado pelo motorista impaciente que acompanhava meu desespero em terminar a travessia. Escorei a bicicleta na amurada da ponte, deixei todos passarem, e quando olhei para trás vi um motociclista estatelado no chão. Ele estava olhando o rio, não percebeu os veículos reduzirem a velocidade por minha causa e deu um bangornaço num Peugeot que ia à sua frente. Meu Deus, até isso aconteceu! Por sorte, não se machucou. Mas espalhou sobre a ponte diversas bombonas de óleo diesel que estava carregando no bauleto da moto.
Dei a volta, empurrei a bicicleta por toda a ponte, subi a lomba que descera faceiro minutos antes, e após 45 minutos parei novamente no borracheiro. Tira espelhos, tomba a bike, um calorão danado, eu suando em bicas... 


Adivinhem? Três arames enfiados no pneu! Três! Um furo do lado do outro, e aquelas cabecinhas niqueladas rindo pra mim, dentro do pneu! Urghhhh!!!
O borracheiro tornou a fazer o conserto, acabamos fazendo graça do meu azar, e depois de tudo pronto voltei pra estrada. Juro que atravessei o perímetro urbano de Cristal a 5 km/h, olhando pro asfalto atrás dos malditos arames...
O que eu também não contava era com uma mudança brusca do vento à tarde. Ficou exatamente contra mim, soprou forte, e foi um teste psicológico enfrentá-lo, após tantos percalços. 
Estava fazendo um vídeo registrando o balanço das árvores, quando o motorista de uma caminhonete passou por mim, reduziu, deu ré, e veio falar comigo. Conversa vai, conversa vem, descobri que é amigo pessoal do meu amigo Pedro Piqueres, é canoísta e ciclista, e o Pedro tinha recomendado seu contato caso eu precisasse de algo em Camaquã. Êta, mundão velho sem cantos...
E vá pedal, vencendo retas sem fim, com imensas subidas e descidas.


Cheguei no Hotel Coqueiro, em São Lourenço do Sul, às 19h, exausto. Mas feliz por ter superado um dia tão peculiar. Mais 70 km percorridos.
Amanhã, Pelotas!
Bait'abraço!



Comentários

  1. Que superação! Vamos em frente! Bom descanso!

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  2. Maszzaa Petry, sempre superando obstáculos, boa viagem!!!!

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  3. Isso é só pra te fazer entrar logo no clima mental de perseverança e serenidade Paulinho, por isso tanto pneu furado. Amanhã será um melhor dia. Mas ainda sobre pista suja no acostamento, estava pensando aqui. A rota de embarque/desembarque do porto, tem um fluxo muito grande de caminhões sempre bem carregados e acho que de Chuí em diante não deve mais ter tanto pneu furado né??
    Baita abraço e vai com fé!! Eduardo e Aline!!

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    1. Estes ventos na parte da tarde sempre aumentam. Lá perto do Yushaia seria bom se conseguisse andar somente na parte da manhã.

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