9º dia - 03/01/2018 - Estava 8 x 0, agora está 8 x 1

Buenas, pessoal!

Desde quando saí de Montenegro, há 9 dias, rumo a Ushuaia, em cima da minha valente Monark, fui enfrentando todos os desafios que, a cada dia, a estrada me propôs. Com a bike pesando 66 kg, mudei minha estratégia incontáveis vezes para pedalar, me adaptando às circunstâncias conforme apareciam, fosse em relação ao relevo, às condições climáticas, ao meu nível de cansaço, aos problemas mecânicos da bicicleta...

E esse é o tempero que dá gosto a uma cicloviagem: não sei o que acontecerá amanhã, o ontem são apenas recordações registradas em fotos e vídeos. Na estrada, de bicicleta - como na vida - preciso viver o hoje. 

Pois, olhando para trás, lendo o que já escrevi, posso dizer que estava 8 x 0 pra mim contra as dificuldades. Mas hoje, o vento abriu o escore... rsrsrs... Ficou 8 x 1.

Já saí de manhã simplesmente tomando um vareio do vento! Era como se houvesse alguém segurando a bicicleta. Vindo de frente ou um pouco enviesado, numa força assustadora, me fez percorrer 50 km em 7 horas! Cheguei às 15h30min em Cerro Chato muito fadigado, sem ter almoçado, só parando eventualmente para comer ou beber.

Passando numa floresta de eucaliptos, parecia que as árvores iam se partir ao meio. Não por nada, divisei no horizonte diversos parques eólicos. Me disseram num minimercado que a intenção do governo uruguaio é enriquecer vendendo energia limpa. Também, pudera, com essa "riqueza" dando sopa e atrapalhando minha vida todos os dias... rsrsrs...

E assim, de arrasto, vencendo metro a metro os 20 km que pretendia ter feito até as 10h da manhã, cheguei às 12h em Santa Clara de Olymar.

(Aí um cachorro ordinário atravessou a faixa correndo e veio direto na minha perna, tentando mordê-la. Em cima da bicicleta, sem condição alguma de reagir, só tive tempo de pará-la e abrir um berreiro contra o cachorro. Acho que o fiz cessar a tentativa de agressão porque, como o xinguei em português, ele não entendeu nada e, na dúvida, recuou... hehehe... mas quando a dona do animal apareceu na porta da sua casa, essa sim, ouviu bem ouvido todos os palavrões que eu conheço em espanhol.)

Chegando em Cerro Chato, às 15h30min, constatei que não teria condições de pedalar mais 40 km numa estrada de areia em direção a Villa del Carmen, onde pararia num posto de pesagem de caminhões madeireiros, e amanhã fazer mais 60 km ainda no chão batido. Com a bicicleta assim carregada, o vento fazendo comigo o que queria, temi pela minha segurança, de derrapar e cair talvez até na frente de um desses bi-trens que carregam toras.

Aí, anotei o "gol" em favor do vento e consegui, numa panaderia (padaria), o contato de um freteiro. Por US$ 100, me transportou por 80 km, mas vindo em direção a Sarandi del Yi (e não mais em direção a Villa del Carmen), onde cheguei em torno das 18h.

Olha eu aí, acomodado na van, segurando a bicicleta!

(Aliás, falando em dólar, aqui no Uruguai o manejo dessa moeda é a coisa mais natural do mundo. Compra-se casa, carro, eletrodoméstico, tudo em dólar. Sugestão para quem pretende se aventurar pelo Uruguai: andar com umas verdinhas na carteira. Fazem sucesso.)

O freteiro me deixou em frente ao Hotel Central, bem no centro da cidade. Muito melhor do que suas acomodações, foi a acolhida do pessoal. Bah, se empenharam para me deixar o mais confortável possível, e por um preço muito justo. O dono ficou impressionado com minha viagem, e me convidou até para dar uma entrevista a um amigo que tem um programa num canal de TV a cabo. Neguei, pois preciso dormir, já que amanhã a percorrida será de 90 km até Durazno. Mas até com um chaveiro do hotel fui presenteado. Há muita gente boa nesse mundo.

Bueno, de giro do pedivela já foram 668 km. Com o frete de hoje, 748. Ao menos voltei ao meu cronograma inicial, de chegar em Colônia de Sacramento no dia 06 (próximo sábado). Se, contudo, o vento continuar soprando assim, periga ter que dividir os 300 km em 4 dias. Cada dia, um dia.

Bait'braço!